A ARTE NA RUA

Grafite ou Grafitti?

Carlos Alberto Reis, jornalista

Do italiano graffiti, plural de grafito, significa marca ou inscrição feita em parede, expressão usada desde o Império Romano. O que para uns é um ato de vandalismo que suja e polui visualmente lugares públicos, sem poupar sequer monumentos históricos, para outros é uma justa forma de expressão, impondo à sociedade a realidade dos menos privilegiados.

Colocado no centro da cena urbana nas grandes cidades, cercado de signos de comunicação, o grafite estabelece diálogo permanente com as peças ao seu redor: cartazes, painéis, placas de trânsito, outdoors, busdoors etc.

O que se coloca como poluição visual também pode ser entendido como inscrições de uma grande diversidade de signos lingüísticos. Ser capaz de conhecer a fonte tipográfica é requisito básico para se desvendar o que está representado em uma pichação ou grafite. Entender as abreviaturas, por exemplo, certamente é impossível para quem não está inserido em uma rede de grafiteiros: são mensagens codificadas, anexadas a variadas informações que pretendem estabelecer um diálogo com a sociedade e, principalmente, com aqueles que dominam o código lingüístico dos autores.

Se deslocado de seu ambiente natural, a rua, para uma sala de arte, o grafite vê limitado e falho o seu poder de comunicação, porque a interação visual com o ambiente externo é o oxigênio que alimenta sua estrutura de expansão, seu processo de disseminação do cotidiano urbano, seu protesto repleto de estruturas, por vezes extremamente complexas, por outras apenas simplórias.

Então a questão: o grafite passa pela vitimização de quem não tem acesso à mídia convencional e faz valer - de modo autoritário - suas inscrições em muros e paredes para impor à sociedade as suas mensagens, os seus valores, suas razões? Ou pode ser visto como uma espécie de grito dos excluídos, uma ação marginal a desafiar o inconsciente coletivo dos habitantes da cidade pichada, chamando a atenção para os problemas que afligem os menos privilegiados? Olhando as letras pintadas com spray nos muros através da janela do seu carro com ar-condicionado, na saída do bom restaurante que costuma freqüentar, daquele show no teatro lotado, ou cinema onde um bom filme elevou seu espírito, reflita...
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